sexta-feira, 30 de março de 2012

Canção para um bem- te-vi...

Sentirei saudades...

"Bem te vi, bem te vi
Andar por um jardim em flor
Chamando os bichos de amor
Tua boca pingava mel
Bem te quis, bem te quis
E ainda quero muito mais
Maior que a imensidão da paz
Bem maior que o sol
Onde estás?
Voei por este céu azul
Andei estradas do além
Onde estará meu bem?
Onde estás?
Nas nuvens ou na insensatez
Me beije só mais uma vez
Depois volte prá lá."

(Jardim da Fantasia - Paulinho Predra Azul)

sábado, 24 de março de 2012

A dor a dor a dor a dor...

"...depois que você partiu o mel da vida apodreceu na minha boca..." (Tom Zé)

Esperando as coisas acontecerem
olho o céu e as estrelas
olho no olho do céu, com remelas e cheio de pregas.

Esperando o mundo mudar
durmo, acordo e me fadigo
na ilusão de acordar bem longe daqui.

Esperando uma ligação que me faça sorrir como outrora
esqueço que nosso tempo já passou
que a vida mudou e que não somos mais dois (ou nunca fomos).

Esperando chegar a coragem de mudar
me perco e desconverso
e em cada conversa resignifico o que já está obsoleto.

Chegará o dia em que vou voar como uma gaivota
construir como uma formiga
e me sentir como uma tigresa...

Enquanto este dia não vem
vou cantar a desilusão
implorar a revolução
e seguir entendendo o porque ando sempre na contramão.

Vai... vai viver o que tem pra viver...
Vem... se quiser realmente entender...
Fui... ainda com medo de voltar mas na certeza que nunca tive tão poucas razões pra ficar...

Cemitério de sonhos é o que sou, e desde sempre a melancolia tem sido o adubo da minha mente.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Para quem ainda vier a me amar

Um amigo me mandou esta poesia que muito vai de encontro ao meu texto anterior que se chama "Pra não dizer que não falei de amor". Gostei tanto que estou postando aqui =). A poesia abaixo é de Roberto Freire.




Para quem ainda vier a me amar




Quero dizer que te amo só de amor. Sem idéias, palavras, pensamentos.
Quero fazer que te amo só de amor. Com sentimentos, sentidos, emoções.
Quero curtir que te amo só de amor. Olho no olho, cara a cara, corpo a corpo.


Quero querer que te amo só de amor. São sombras as palavras no papel.
Claro-escuros projetados pelo amor, dos delírios e dos mistérios do prazer.
Apenas sombras as palavras no papel.


Ser-não-ser refratados pelo amor no sexo e nos sonhos dos amantes.
Fátuas sombras as palavras no papel.
Meu amor te escrevo feito um poema de carne, sangue, nervos e sêmen.


São versos que pulsam, gemem e fecundam. Meu poema se encanta feito o amor
dos bichos livres às urgências dos cios e que jogam, brincam, cantam
e dançam fazendo o amor como faço o poema.


Quero a vida as claras superfícies onde terminam e começam meus amores.
Eu te sinto na pele, não no coração. Quero do amor as tenras superfícies
onde a vida é lírica porque telúrica, onde sou épico porque ébrio e lúbrico.


Quero genitais todas as nossas superfícies.
Não há limites para o prazer, meu grande amor, mas virá sempre antes,
não depois da excitação.


Meu grande amor, o infinito é um recomeço.
Não há limites para se viver um grande amor.
Mas só te amo porque me dás o gozo e não gozo mais porque eu te amo.


Não há limites para o fim de um grande amor.
Nossa nudez, juntos, não se completa nunca, mesmo quando se tornam
quentes e congestionadas, úmidas e latejantes todas as mucosas.


A nudez a dois não acontece nunca, porque nos vestimos um com o corpo do outro,
para inventar deuses na solidão do nós. Por isso a nudez, no amor, não satisfaz nunca.
Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Porque tu me amas, eu não preciso de ti.


No amor, jamais nos deixamos completar.
Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.
O amor é tanto, não quanto. Amar é enquanto, portanto. Ponto.

Pra não dizer que não falei de amor

Hoje tenho muita dificuldade em falar de amor.
Visto que o amor romântico é uma farsa que nos prende na acomodação de pensar que teremos alguém que irá ser o companheiro certo para ajudar a suportar as angústias que este mundo tem.

Todas as poesias de amor e as músicas bregas que faz parte do meu repertório, hoje só me afasta da realidade concreta de que as pessoas se aproximam das outras principalmente para suprir determinadas necessidades de cada momento da vida.

A tentativa de se apaixonar por certas coisas em detrimento de outras que são ilusórias é uma missão difícil. Mas, mais difícil ainda é superar a decepção de um amor platonico que só traz ciumes e desilusão, transformando o amor em algo que traz sofrimento e dor.

Eu, mulher, alvo de sentimentalismos baratos no decorrer da história, fui criada e domesticada, temperada com misticismos e poesias para que eu ficasse passiva e conformada por todo esse tempo, quero hoje romper com minha concepção de amor oportunista.

Há de haver poesia no amor livre. Não estou falando de sexo apenas. Estou falando de um amor que não se diferencia do amor erótico, fraternal e filial. Um amor que não se esgote na família burguesa nuclear.

Um amor que nós propomos, que nós sonhamos, organizamos como queríamos, e não conseguimos seguir em frente. Por quê? Ainda estamos acreditando que a dois é mais fácil?
Será que não sabemos entender que um amor é diferente do outro e a paixão é um desejo louco pelo novo?

Todas as pessoas que eu amei, entre parceiros sexuais, parentes, amigos e companheiros, foram amores verdadeiros. O ciúme do seu corpo é apenas porque não sabemos amar de forma livre. Quero teu corpo porque te amo, e por te amar não te privo e só quero te possuir em tal momento, e te possuir todo o tempo é contra os meus princípios. Princípios que me censuram por te querer pra mim, porque se não és meu não te tenho...

Assim, sigo o meu caminho solitário, mesmo sabendo que acompanhada nessa empreitada da "não propriedade" é mais fácil.

Ouvirei música brega, pensarei em várias pessoas como exercício. Me apaixonarei por seres humanos lindos, e aprenderei um pouco mais com cada um. Farei amor com quem tiver amor pra dar, só pra celebrar... um gole de cachaça.

Luli


Linda.
Um amor verdadeiro que me enchia de alegria quando em minha casa eu chegava, cansada e alucinada e você senteva no meu colo com aqueles olhinhos redondos querendo só um pouquinho de mim.

Gata.
A mais linda da viela, todos a olhavam, todos a queriam, me orgulhava da sua sutileza e da sua inconformidade quando eu demorava um pouco mais pra voltar.

Grávida.
Me deixou preocupada como uma solteira que vai ser vovó.

Triste.
Eu fiquei quando voltei naquele domingo confuso e nunca mais te vi.

Em pensar que em menos de um ano eu te amei tanto, desde o dia que te trouxe na bolsa.
Em pensar que um pedaço do meu dia e da minha noite desapareceu junto com você e só te tenho em meus sonhos a me lembrar que sem você minha solidão fica cada dia mais pesada, mas um dia isso vai passar.

Luli, está hoje em um lugar melhor? Se estiver, em qualquer lugar que seja este, vai voltar mesmo se for quando eu te encontrar em outro olhar.


Uma homenagem a minha querida gata Luli que em Janeiro de 2012 partiu e nunca mais voltou...