terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Terça-Feira

Eram quatro da manhã. Carolina estava em uma parada de ônibus caminho para a capital.
Ela fumava o único cigarro que o tempo lhe permitia. Pensativa e passiva às circunstâncias que o tempo lhe impôs.
Neste momento, Julio bebia aflito em uma balada da Rua Augusta, aflito por saber que algumas horas adiante iria por à perder uma das poucas chances que a vida lhe deu. Tudo porque o tempo não foi generoso para com ele.

Abatida, com o coração no bolso lateral da mochila, Carolina chega ao Terminal Rodoviário da Barra Funda, como se estivesse caminhando contra gosto à forca. Caminha até a saída mais próxima, e sobe a escada rolante. Enquanto tenta fechar o botão defeituoso da sua blusa, olha para cima e vê ao fim da escada Julio, quase irreconhecível de tanta tristeza. Ela desvia o olhar, respira, e tenta manter a calma.

Tudo o que conversaram no caminho para o apartamento no marco zero da cidade, foi sem importância, o riso era disfarce, e nada mais fazia sentido. Sem conseguir comer, ela pede um café amargo na lanchonete da esquina. Julio, ainda meio bêbado por não ter dormido naquela noite e nos dias anteriores, observa.

Chegando ao apartamento os dois preferem tentar dormir um pouco. Abraçados, Julio dorme e Carol fica acordada, só se preocupando em sentir o que poderia ser o ultimo abraço deitada naquele colchão e naquele apartamento estranho que originou a admiração dos dois pela terça-feira.

Cansada de esperá-lo acordar e tentando prolongar a espera ao mesmo tempo, Carol resolve caminhar sozinha pelo centro da cidade, na esperança de comprar algo pra comer, pois se não o estomago não aceitaria mais um cigarro, vital naquele momento.

Ao voltar ela o acorda, mas como fosse mais forte que ela, se deita ao lado dele. Esta proximidade tão prazerosa todos os dias que estiveram juntos – sem nenhuma exceção – agora trazia uma agonia profunda. Ele precisava terminar o melhor relacionamento que já teve, por culpa das marcas que o tempo deixou e a falta de experiência com o amor que o tempo não o presenteou. Tinha um profundo medo de não conseguir dar a ela tudo que ela merecia. Se esqueceu que com ela seria mais fácil superar qualquer coisa. Ela sabia que nada poderia fazer a respeito e estava magoada por ele não acreditar que ele merecia todo amor que ela queria lhe dar, e por isso pôs tudo a perder.

Durante a conversa final, nada fazia sentido. Enquanto os dois choravam juntos, como sempre estiveram, a vontade de tocar um ao outro ainda era predominante. No corpo de Julio ainda havia as marcas dos dentes de Carol em seu ombro. Ao olhar para ele, ela só pensava como seria nunca mais o morder de tanto tesão. Julio chorou ao olhar seu ombro dias atrás...

Ele não conseguia olhar aquela boca sem pensar em a beijar, estava fazendo um grande esforço. Carol não tinha nada a perder, e não pensava em nada, só em prolongar estar com ele mesmo se fosse a ultima vez. Ela não o chingou, e nem saiu e bateu a porta. Apenas quis sentir o calor daquelas mãos novamente.

Ao falarem o quanto foi bom e intenso o melhor namoro que tiveram, não encontraram um dia se quer que estiveram juntos que não foi fantástico. E não havia. O ultimo dia tinha que ser inesquecível igualmente. Não queriam brigar, e sim relembrar o quanto tudo foi bom. Em pouco tempo após algumas lagrimas riram de si mesmos, por não conseguirem brigar de tanto amor.

Carolina acariciava a barba de Julio, enquanto lembrava-se da expressão mais bonita que já viu: a dele em um determinado dia daquele verão, com a luz acesa e ela por cima. Ele também olhava para ela, sentindo aquela paz que podia resolver todos os problemas instantaneamente.

Resolveram se entregar pela ultima vez, pois sabiam que seria bom. Queriam-se mais que nunca. Iam deixar pra sofrer depois do adeus. Uma mordida nova no ombro de Julio. Esta ultima doeu mais em Carol...

4 comentários:

  1. O que dizer de uma história dessa... Bonita e ao mesmo tempo traiçoeira.

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  2. Um bom conto. É triste, sem ser depressivamente dramático.

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  3. É um bom conto, mas toda vez que releio me parece cada vez mais irreal... acho que não sirvo pra escrever este tipo de texto.

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